quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Por que ainda falar em Juventude no Brasil?

1.       
Segundo dados da ONU, o Brasil está em 5º lugar na relação de volume de jovens na população e é responsável por 50% dos jovens da América Latina e 80% do Cone Sul. Dados do IPEA mostram que a juventude brasileira já em 2010 contava com aproximadamente 51 milhões de pessoas. ¹ (Juventudes e políticas sociais no Brasil, IPEA – 2009)

Diferente do mundo desenvolvido que tem atualmente uma população majoritariamente adulta e caminhando para o envelhecimento, principalmente por conta da estabilidade econômico-social, da redução dos índices de mortalidade e fecundidade e da exacerbação do individualismo, no Brasil temos em pleno século XXI um boom populacional que tem provocado um inchaço central na pirâmide demográfica haja vista o “resultado de uma característica particular da dinâmica demográfica brasileira dos anos 1970 e 1980, conhecida por “onda jovem”² (Juventudes e políticas sociais no Brasil, IPEA – 2009, capítulo 2).


Tal “Onda” Segundo Bercovich (Indicadores sociais: uma análise da década de 1980,1995, p. 46), iniciou-se  com o crescimento demográfico peculiar das décadas de 40,50 e 60. Entre 1965 e 1980, a geração de homens e mulheres deste período cresceu significativamente em termos quantitativos em função das altas taxas de natalidade observadas pela geração anterior.  Verificou-se a partir daí, do ponto de vista demográfico, a existência de períodos caracterizados por uma “onda jovem”. Já na década de 80, o crescimento foi baixo, tendo como resultado da redução das taxas de fecundidade verificadas a partir de 1960.

Já a partir de 1990 e 1995 no epicentro da crise econômica brasileira, das privatizações e demissões em massa, do desemprego batendo recorde junto com a pobreza e a desigualdade social, pode-se dizer que houve um revigoramento desta “onda jovem” em função de que as jovens nascidas no período anterior (1965 a 1980) mantiveram elevadas taxas de natalidade (independente da redução da fecundidade), resultando em um novo momento de crescimento deste segmento populacional.

Mais do que um número, as juventudes são uma camada da população com especificidades e contradições dignas de categoria social no mundo moderno.

Falar de juventude é falar de uma etapa da vida em que o caráter, as concepções e as certezas de um futuro estão sendo adaptadas e definidas.

É o momento em que qualquer cidadão organiza direta ou indiretamente a sua base para o futuro. Seja nos estudos, no trabalho, no romance, nas amizades, na relação com a família ou com a sociedade.
Levando para o macro, juventude é toda uma categoria social que nesta década bate todos os recordes populacionais, alcançando cerca de 1/3 da população do Brasil e que estatisticamente se coloca na possibilidade de decidir o país do futuro.

Os avanços oriundos das políticas públicas de juventude inaugurada pela lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, não nos garante ainda, que essa juventude tenha voz e vez na formulação de uma plataforma de desenvolvimento nacional que além de ter que resolver o problema da marginalização e exclusão juvenil, precisa apontar saídas para o colapso social que a globalização tem asseverado a partir da juventude.

A geração dos anos 1990, a atual juventude, talvez por só ter experimentado o regime democrático neoliberal, tem caminhado para a virtualização de suas decisões e a pasteurização de suas vontades.

Além disso, vai caminhando para aceitação de uma concepção de juventude onde a tutela parental e estatal aparece como única solução para seus chamados “desvios”.

Tal modelo, além de tirar das mãos do jovem a opção de se tornar sujeito de direitos ativo na construção de seu meio e país, caminha para o desenvolvimento de uma juventude líquida, flúida e por que não, estúpida.

Dessa forma, falar de juventude neste livro é falar da necessidade do Brasil de organizar políticas públicas de proteção, inserção e emancipação de toda uma juventude que nos próximos 10 ou 20 anos deverá ter completado sua transição geracional correta ou não, para dirigir o país do desenvolvimento.

Estudar a juventude aqui é propor o leitor a refletir sua cognição de forma que tenhamos respostas para crises de paradigmas que a atual geração de jovens no Brasil enfrenta para tomar a frente de seu país.

O Brasil não achará seu caminho no desenvolvimento, sem desenvolver mecanismos que conectem a juventude com a geração velha, sem mecanismos que tragam a juventude para o processo de participação democrático-social nem achará o seu caminho enquanto tratar as diversas juventudes como segmentos violentos que precisam de atenção. 

Dessa forma, continuar a estudar e propor modelos alternativos de Juventude para o Brasil, não é desconstruir 10 anos de avanços em formulação e execução de PPJ’s, é acentuar e intensificar modelos que de fato possa transcender as políticas públicas localizadas e setoriais para que de fato tal segmento se encontre e comece a construir a sua própria 
história. 


*Pedro Teixeira

Nenhum comentário: