quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O Diário de um garçom – Primeiro Final de Semana




Quatro e meia da tarde. O dia – verão, calor, fim de tarde. Chego no “trabalho”. Expectativa: sair antes de uma da manhã. Mesas e cadeiras de madeira precisam ser pegas, abertas, organizadas e limpas para que os clientes possam sentar e criar seu curto momento social alimentício.
Depois, enumero todas as mesas com caixas-guardanapos e temperos, são 3 para cada mesa, ao total 105. Pego 3 ou quatro cardápios, uma comanda manual e paro em frente ao estabelecimento para aguardar o chamado.
Agora, começam a chegar algumas pessoas, na primeira fase, são alunos de um colégio de classe media-alta do bairro que se aproximam e buscam fazer o pedido. Uniformizados, com o brasão vitorioso nas camisas, se estiram nas mesas para fazer seu relax pós-aula e interagir com suas tribos. Smartphones na mão, olhar para essas telinhas, falam de um tal vídeo que está circulando no whats’up. Não entendo muito bem o que isso vem a ser, prefiro não escutar conversas alheias, cumprimento e entrego-lhes os cardápios, e depois me posiciono para anotar os pedidos.
Uma menina, de óculos, cabelo longo, liso, claro, perfume forte, que incomoda o nariz e o olhar no facebook balbucia com desdém:
- Já sei o que vou pedir.
 E sem um olhar, começa a falar tão rapidamente os pedidos que me esforço para poder anotar todos de uma vez. Ela não se importa se eu consegui anotar.
- Entendeu? Essa com palmito é sem catupiry, tem que ter cheddar.
Sim, está no cardápio. Vem com cheddar, eu disse.
- É que eu cansei de pedir e vir errado anota aí direitinho.
E eu não sei anotar?
Olho para o colega dela que está na mesa, é o sinal para que ele possa falar seu pedido. Falando com um sotaque meio carioca, meio playboy marrento, pede Schweppes Citrus, esfirra de carne, calabresa e bacon. Acabou de sair da academia, está faminto e quer rapidez.
Recolho os cardápios, volto para a loja, lanço os pedidos na tela. Me deram um login e uma senha, sou o extra atendimento. Me chamam assim por que só trabalho no final de semana.
Volta para fora, atendo, repito basicamente algumas operações e atendo os clientes. Perco a conta de quantos são, quem são, o que pedem. Mas anoto tudo direitinho. Me falaram que tem que anotar tudo certo e assim eu faço.
Depois de muito tempo, paro para perceber que não havia feito minha pausa, tenho “direito”. Quando vou sair, me avisam:
- Agora não dá, tá quase na hora de fechar, o patrão não gosta que saiam no final do expediente. Tem que ajudar a fechar tudo.
Num domingo, o gerente, me chamou para ser seu extra-fixo.
- Olha que chique? Meu extra-fixo. Topa ser?
Assenti, era madrugada, estava exausto do trabalho, havia ficado de pé até às uma e meia e não tínhamos terminado de recolher as mesas e cadeiras e fechar o lugar. Todo mundo por lá sempre dizia:
- Olha as câmeras ai, ele não gosta que ninguém vá embora antes, todos têm que ir juntos.
E assim ficava, até fechar o lugar, depois de ter se tornado o “extra-fixo”. Catei meus 50 pilas e lembrei que teria que acordar cedo naquele dia, daqui a pouco, e estudar pra uma prova que teria, enquanto todos estariam na praia, no calor veranil da cidade.
Mas tudo bem, pensei:
- Agradeça por tudo menino, agradeça por tudo! Minha vó diz sempre isso. Além do mais, o dia tinha acabado.

Continua...

segunda-feira, 11 de março de 2013

A importância da Universidade no Brasil que vivemos hoje



 Ao analisar os últimos 10 anos de Brasil vimos que  ele mudou. O Brasil do passado era a promessa de “País do Futuro”, “Estado sem-memória”, “Republiqueta das bananas”, País do atraso, da pobreza, da corrupção, da desigualdade social e da má-qualidade de vida de sua população.

O Brasil de hoje é credor do FMI (Fundo Monetário Internacional), incluiu mais de 1 milhão de estudantes em Universidades com o PROUNI e dobrou o número de Universidades Federais com o REUNI, reduziu sua desigualdade social - na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%, enfrentou os Bancos e Credoras reduzindo a taxa de Juros, o modelo de acumulação de capital especulatório para um produtivo, incrementou substancialmente seu investimento em ciência e tecnologia, fortaleceu sua cultura e diversidade nacional, gerou mais emprego do que em qualquer outro período da história, está mais eficiente, combateu a corrupção inclusive com inovações em mecanismos de controle como Controladoria Geral da União, O Portal da Transparência  a autonomia do Tribunal de Contas, da Procuradoria da República, da Polícia Federal e o aumento de investigações e operações de punição do mal feito mesmo que “sangre a própria carne”. É uma nação soberana e com um projeto de país que não perde de vista que o seu modelo de desenvolvimento é para dar mais qualidade de vida a população brasileira e a estimular o desenvolvimento da America latina e das nações pobres.
Quando faço esta análise, retrocedo historicamente e percebo que o Brasil em sua consolidação enquanto nação, teve períodos políticos que trilharam Eras e acontecimentos que mudaram histórias.

Podemos falar que a primeira mudança moderna no país acontecera a partir de 1880. O Brasil abandonou seu regime de escravidão, rompera com a monarquia e inaugurou sua era de Estado de Direito com sua primeira constituição republicana. Essa Era se estendeu ao menos até 1930 quando Getúlio Vargas com apoio dos burgueses e industriários nacionais implantaram a “Revolução de 30”, neste momento o Brasil começava a trilhar sua caminhada rumo às cidades, a formação de um mercado interno, da classe trabalhadora e da Primeira Consolidação de leis trabalhistas – CLT, foi neste período que o Brasil abriu de maneira mais organizada enquanto política nacional fortes relações de comércio, política e economia com outras nações mundiais fora da lógica do período colonial. Também foi o período de aprofundamento da dependência do capital americano contraído em dívida externa para projetos industriais e de infra-estrutura afim da formação de uma indústria de base nacional.

Passada a conhecida Era vargas, vimos um período de acontecimentos de instabilidade política provocada pelos latifundiários atrasados que queriam o mesmo modelo agrário monárquico com o recém-formado empresariado nacional e seus trabalhadores. Acontecimentos que culminaram em outra Era – o período Civil Militar que através das forças armadas unificou os latifundiários nacionais e o empresariado alinhado as relações norte-americanas para governar o país e gerar ordem e quietude no povo do campo e na nova gente das cidades. Este período por sua vez foi a consolidação de uma nação urbana e industrial, de um país com crescimento econômico concentrado na mão de poucos, diminuição liberal dos investimentos do Estado nas áreas sociais, inflação em alta, derretimento do poder aquisitivo dos brasileiros, aumento exponencial da violência, ilegitimidade das instituições nacionais, dependência direta do capital estrangeiro.

Já o fim desta era sem liberdades democráticas, culminou outro período de acontecimentos com instabilidade política que foi a década de 1990. Nessa época a Nação foi vilipendiada, o patrimônio nacional fora vendido, o poder de compra e renda da sociedade derreteu, o Brasil parou de empregar e viu sua soberania nacional se ater a “passar o pires” de um país endividado e refém do Consenso de Washington – Quem não se lembra do episódio do Chanceler Brasileiro ter que tirar os sapatos no Aeroporto americano? Ou dos boatos de calote brasileiro de um país na bancarrota? Também foi a era de investimento ZERO na educação, de nenhuma criação de Universidades federais e sim de fechamento de algumas e dos CEFETES, nenhum investimento em pesquisa, ciência e inovação, nenhum curso novo, fechamento de vagas na educação, ausência de plano de carreira dos professores, financeirização da produção nacional, aumento exponencial dos juros, engavetamento de investigações contra a corrupção, compra de votos para a reeleição de FHC, ingerência na autonomia das instituições e da Polícia Federal, Estado Democrático de Direito inaugurado com a Carta política de 1988 ignorado.

Vivemos um novo Brasil. Novo por que ao escolhermos Lula Presidente, criamos novamente outros acontecimentos que estão mudando a história. Optamos por ter um projeto de nação bem delineado, que seja justo, democrático, não só na forma mas na participação, que inclua as pessoas, que distribui renda e que fortaleça a soberania econômica, política, e social do Brasil colocando-o num outro papel no mundo. Quando elegemos Dilma Presidente, optamos por continuar este projeto mas acentuar mudanças. Queremos um Brasil que produza, gere empregos e dê qualidade de vida para a população e não que especule dinheiro não produtivo. Queremos o fim da pobreza, da desigualdade e da ineficiência do Estado. Queremos que nossa democracia seja plural e que a informação consiga ser produzida e difundida por todas as opiniões em equilíbrio e não apenas por 6 famílias brasileiras. Queremos que o mal feito seja duramente reprimido, que a reforma política seja pra valer e principalmente – Queremos um Brasil que atue no mundo de modo a garantir outro modelo de desenvolvimento.

A crise de 2009 não é apenas econômica, ela é o apogeu de uma sociedade em crise de paradigmas gerais. O Capitalismo mostra todos os dias que seu modelo selvagem e de crescimento a todo custo, gera pobreza, desigualdade e morte. Qual o papel da educação nessa conjuntura? O movimento estudantil acaba de sair de um Congresso das Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes com uma resolução de Assistência Estudantil na linha certa destes últimos acontecimentos, mas com um modelo de organização e mobilização dos estudantes que não ajuda-nos a superar os desafios que o Brasil e a Universidade Brasileira enfrenta.

Vemos que para muitos dos que fazem movimento estudantil – dos que se auto-intitulam esquerdistas ou dos governistas, fazer movimento estudantil não é em prol dos estudantes e dos brasileiros, é em prol de uma batalha de egos e organizações políticas para ver quem assume o controle das decisões de uma entidade. Aqui na UFES, na UNE ou em qualquer universidade, sempre nos deparamos com os “iluminados” e os de “esquerda”, os “governistas”, tanto faz se virou rótulo quando o que só querem, são as entidades estudantis pra fazer disputa de poder. É muito bonito ser de esquerda, governistas, etc, e te arruma uma credencial com uma galera legal se tiver afim (sic).

O Movimento Estudantil não pode ser pra isso. Há mais gente nas Universidades e há um outro Brasil se formando a cada dia sem a nossa ajuda. Todos nós estudantes só estamos nela por ser uma opção da sociedade brasileira que investiu caro e pesado nestes últimos anos, com bilhões de reais para que a Universidade pudesse dar respostas para os problemas e desafios que temos no Brasil.
Não adianta ter discurso de que defende o “povo”, os “estudantes”, as “minorias”, os “fracos e oprimidos” ou os que mais precisam. Tem que ter prática, mostrar por “A +B”, dar exemplos reais como os vistos pelo Brasil em sua esfera macroeconômica, política e social. 

Tem que realmente querer conectar os estudantes, querer que a opinião seja plural, querer respeitar as diferenças e querer ouvir mais gente. Ainda que se abra mão para flexionar a opinião e fazer aquilo que mais gente quer. Os que não fazem isso não só não me representam como não representam em nada os estudantes do dia a dia da Universidade. Estes no máximo se representam e a seus interesses ideológicos e políticos. Ou cada estudante, principalmente aqueles que não aceitam esse método de movimento estudantil, se organizam para dar um basta e fazer diferente, ou todo o projeto de futuro do Brasil estará nas mãos de quem nem sabe nem o que que é isso.