Quatro e meia da tarde. O dia –
verão, calor, fim de tarde. Chego no “trabalho”. Expectativa: sair antes de uma
da manhã. Mesas e cadeiras de madeira precisam ser pegas, abertas, organizadas
e limpas para que os clientes possam sentar e criar seu curto momento social
alimentício.
Depois, enumero todas as mesas
com caixas-guardanapos e temperos, são 3 para cada mesa, ao total 105. Pego 3
ou quatro cardápios, uma comanda manual e paro em frente ao estabelecimento para
aguardar o chamado.
Agora, começam a chegar algumas
pessoas, na primeira fase, são alunos de um colégio de classe media-alta do
bairro que se aproximam e buscam fazer o pedido. Uniformizados, com o brasão
vitorioso nas camisas, se estiram nas mesas para fazer seu relax pós-aula e interagir com suas tribos. Smartphones na mão,
olhar para essas telinhas, falam de um tal vídeo que está circulando no whats’up. Não entendo muito bem o que
isso vem a ser, prefiro não escutar conversas alheias, cumprimento e
entrego-lhes os cardápios, e depois me posiciono para anotar os pedidos.
Uma menina, de óculos, cabelo
longo, liso, claro, perfume forte, que incomoda o nariz e o olhar no facebook balbucia com desdém:
- Já sei o que vou pedir.
E sem um olhar, começa a falar tão rapidamente
os pedidos que me esforço para poder anotar todos de uma vez. Ela não se
importa se eu consegui anotar.
- Entendeu? Essa com palmito é
sem catupiry, tem que ter cheddar.
Sim, está no cardápio. Vem com
cheddar, eu disse.
- É que eu cansei de pedir e vir
errado anota aí direitinho.
E eu não sei anotar?
Olho para o colega dela que está
na mesa, é o sinal para que ele possa falar seu pedido. Falando com um sotaque
meio carioca, meio playboy marrento,
pede Schweppes Citrus, esfirra de carne, calabresa e bacon. Acabou de sair da
academia, está faminto e quer rapidez.
Recolho os cardápios, volto para
a loja, lanço os pedidos na tela. Me deram um login e uma senha, sou o extra atendimento. Me chamam assim por que
só trabalho no final de semana.
Volta para fora, atendo, repito
basicamente algumas operações e atendo os clientes. Perco a conta de quantos
são, quem são, o que pedem. Mas anoto tudo direitinho. Me falaram que tem que
anotar tudo certo e assim eu faço.
Depois de muito tempo, paro para
perceber que não havia feito minha pausa, tenho “direito”. Quando vou sair, me
avisam:
- Agora não dá, tá quase na hora
de fechar, o patrão não gosta que saiam no final do expediente. Tem que ajudar
a fechar tudo.
Num domingo, o gerente, me chamou
para ser seu extra-fixo.
- Olha que chique? Meu
extra-fixo. Topa ser?
Assenti, era madrugada, estava
exausto do trabalho, havia ficado de pé até às uma e meia e não tínhamos terminado
de recolher as mesas e cadeiras e fechar o lugar. Todo mundo por lá sempre
dizia:
- Olha as câmeras ai, ele não
gosta que ninguém vá embora antes, todos têm que ir juntos.
E assim ficava, até fechar o
lugar, depois de ter se tornado o “extra-fixo”. Catei meus 50 pilas e lembrei
que teria que acordar cedo naquele dia, daqui a pouco, e estudar pra uma prova
que teria, enquanto todos estariam na praia, no calor veranil da cidade.
Mas tudo bem, pensei:
- Agradeça por tudo menino,
agradeça por tudo! Minha vó diz sempre isso. Além do mais, o dia tinha acabado.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário