terça-feira, 18 de setembro de 2012

Rock na UFES e EU com isso?



O princípio básico da Universidade é a universalização do conhecimento. Data vênia para a redundância, temos visto tal premissa carecer de sentido nos últimos tempos. 

Para se alcançar conhecimento pleno, uma Universidade deve garantir junto com o ensino técnico-científico aplicado, um conjunto de ferramentas que proporcione ao ser humano ali inserido, condições de aplicar esse conhecimento conjugado com a sociedade ao seu entorno.

Damos a isso o nome de tripé acadêmico – Ensino, Pesquisa e Extensão.  É exatamente este tripé que nos diferencia enquanto Universidade perante os demais cursos de outras tantas faculdades ou centros universitários infinitos que se proliferam a cada dia. 

A UFES sem duvida deu um salto de qualidade desde sua fundação na década de 1950. Ao contrário do descalabro publicado pelas mídias capixabas tentando comparar a UFES com 2 das maiores Universidades do País – UFMG e USP, somos a 22º colocada num ranking com mais de 190 IES.  Um resultado inimaginável há 10 anos quando estávamos entre as últimas colocadas. 

Desde a implantação do programa de Reestruturação das Universidades Federais, a UFES abriu 37 novos cursos de graduação, iniciou seu programa de pós-graduação com dezenas de programas latu sensu e strictu sensu. Até bem pouco tempo pensar em Doutorado na Universidade era um triste sonho capixaba. 

Neste ano, com a criação da Assessoria de Relações Internacionais, vê-se a preocupação da administração, em passado o processo de expansão acadêmica, tirar a UFES do contexto local para integrá-la aos principais Centros de Ensino do Brasil e do Mundo para que ela entre no circuito do saber. 

Entretanto, não podemos continuar surfando nessa onda do desenvolvimento sem travar alguns debates fundamentais para a comunidade universitária: O modelo de aprendizado. 

Nós estudantes da UFES temos muito orgulho de estar numa instituição onde as pessoas se conhecem e em comunidade estabelecem decisões. Temos alegria em estabelecer amizades que carregamos conosco para toda vida. 

Temos muita sede por mais condições para pesquisar e aplicar tudo o que aprendemos em sala com a população da cidade. Não é de hoje que cobramos de nossos Departamentos e da Administração da UFES mais recursos para Pesquisa e Extensão bem como professores que atuem em nosso auxílio. 

Além disso, comemoramos e “tiramos onda” com alunos de outras Universidades que nos visitam, graças ao verde, a natureza e a beleza do nosso Campus Central. Em Vitória e em todo o Brasil, somos conhecidos pela Liberdade das ideias e do fluxo de pessoas que circulam por nossos campi. 

O Tal “Rock na UFES” talvez seja a maior expressão desse sentimento. A fim de resgatar sua história, descobri que as festas de sexta-feira na Universidade não são invenção de nossa geração. 
Há décadas atrás alunos da Engenharia, que para atravessar o campus tinham que lidar com situações de “pinguelas” pelo mangue, resolveram unificar a comunidade em breves momentos da noite praticamente deserta de sexta-feira como forma de incentivar o uso e empoderamento por parte dos alunos do até então campus deserto de goiabeiras. 

De lá pra cá, muita coisa mudou. Temos mais prédios, o campus está mais urbanizado, os alunos são outros e a vida está muito mais rápida e dinâmica. 

Entretanto, aquele mesmo sentimento de integração e de viver o curto período que passamos na UFES com toda intensidade continuam o mesmo. 

É realmente lamentável ocorrer cenas de estupro, violência e abuso do consumo de drogas num espaço como o “Rock na UFES”. 
Não apenas pelo fato típico ilícito em si, mas sobretudo por que nos últimos tempos, a falta de diálogo entre nós - comunidade universitária e da UFES com a população em geral, tem contribuído para a deturpação da lógica fundamental da existência das sextas-feiras a noite na Universidade – Convivência e integração da UFES consigo mesmo e com toda a cidade. 

Nós estudantes não somos contra as Festas na UFES. Quem já não foi em uma? Quem não curtiu seus tempos de “calouro” empolgadíssimo com essas atividades?

Desistimos de ir pela insegurança e descaracterização original que ela se tornou.
Numa primeira impressão, proibir festas na Universidade parece ser a melhor solução. Do ponto de vista temporal, no estado que chegaram as coisas, talvez. 

Do ponto de vista social, do aprendizado, da formação humana e cidadã daquele que comparece nessas atividades, acabar com elas é o enterro da liberdade dada para cada estudante a fim de se organizar e estabelecer novas descobertas nesse momento único que é a academia. 

Se buscamos a Universalização do conhecimento como proposta de Excelência Universitária, então é preciso deixar claro dentro da estratégia de desenvolvimento da Universidade que o saber não se aprende apenas no exímio debate teórico da pesquisa ou na repetição técnica do ensino, muito menos na execução prática da extensão somente.

O saber transcende a tudo isso e vem com as novas descobertas. Auxiliado pelo aparato técnico-científico básico dos currículos acadêmicos, mas fundamentalmente com a VIDA e todos seus acertos e erros.

Portanto são estas atividades plurais e multi-concetuais que unem estudantes tão diferentes, das mais diversas áreas do saber, de Centros não tão distantes aqui e acolá e dos mais diversos campi da UFES para de maneira unificada criar momentos cruciais em seu próprio desenvolvimento enquanto pessoas. 

Não sei quanto aos senhores e senhoras, mas sem dúvida de todo o conhecimento adquirido em sala de aula ou pesquisas que tive e terei até minha formatura, sem dúvida os mais importantes não serão lembrados de dentro da sala de aula ou das milhares de páginas dos meus livros de estudo. Estes estarão absorvidos e sem dúvida serão executados quase que de modo automático.

Diferentemente, serão todas as minhas lembranças de processos e atividades junto com cada estudante, professor, técnico, vigilante, cozinheira e bibliotecária, portanto junto às PESSOAS, que ajudaram a me tornar o que sou e o que serei. 

A Universidade precisa garantir um espaço que dê condições, segurança, conforto e apoio às festas e eventos na UFES para que a proposta original do “Rock na UFES” seja retomada e assim os estudantes e a sociedade consigam usufruir das importantíssimas sextas-feiras da academia.

Pedro Luiz Teixeira
Aludo do Curso de Direito
Membro do Conselho Universitário