quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

China e o novo centro dinâmico

Por Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 23/02/2012 na Revista Fórum 105

O sucesso do milagre econômico chinês apresentou ao mundo uma novidade quase não imaginada frente à inconteste hegemonia estadunidense. Seja na evolução do comércio externo ou na presença crescente dos investimentos externos, a China se posiciona de forma cada vez mais sólida como eixo integrador da dinâmica mundial.

Antes da crise do capitalismo global, a economia estadunidense apresentava sinais de certa decadência frente ao seu esvaziamento produtivo e da relativa perda de importância do dólar. Mas, a partir de 2008, a perda de influência norte-americana tornou-se cada vez mais evidente, sobretudo quando se considera o sucesso transformista chinês.

Para piorar, os Estados Unidos passam a apresentar sinais crescentes de subdesenvolvimento, como no caso da concentração de renda. Nas últimas três décadas, por exemplo, o segmento constituído pela faixa do 1% mais rico da população teve a sua renda aumentada em 256%, enquanto o rendimento dos pobres subiu somente 11%. Como resultado disso, os EUA voltaram a deter um padrão de desigualdade de renda somente verificado antes da Depressão de 1929.

Diante do descenso estadunidense e do auge chinês, os governos têm a oportunidade de rever estrategicamente o posicionamento de suas economias. 

Do contrário, a trajetória das relações comerciais e de investimento com a China tende cada vez mais a aprofundar as características históricas já notabilizadas, especialmente durante a antiga ordem internacional estabelecida a partir da Inglaterra. Como a China atual, o Reino Unido dependia fortemente de produtos primários, enquanto se mantinha como forte produtor e exportador de produtos manufaturados. Ou seja, dava-se o estabelecimento de uma convergência internacional para a produção e exportação de produtos primários e simultânea dependência da dinâmica local à internacionalização dos seus parques produtivos segundo a lógica inglesa.

Em geral, a China passa a deter não somente relações comerciais como presença de investimento superiores às dos EUA. Por meio da globalização financeira, não obstante os sinais de certo esvaziamento do seu papel monetário (fim do padrão ouro-dólar nos anos 1970) e de enfraquecimento relativo de sua produção e difusão tecnológica, os Estados Unidos se transformavam praticamente num império unipolar. Tanto assim que prevaleceu a concepção de pensamento único e visão de fim da História, com predomínio da democracia liberal e do livre mercado.

Nos dias de hoje, com o esgotamento do movimento de globalização financeira, registrado por várias crises de dimensão internacional, o milagre chinês ascendeu rapidamente. Assim, a expansão da economia do país possibilitou que em apenas dez anos a sua produção fosse triplicada, contrastando com a realidade estadunidense. Somente entre 1999 e 2010, por exemplo, a variação acumulada do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos foi equivalente a apenas 1/8 da verificada na China.

No mesmo sentido, o país asiático responde cada vez mais por uma maior parcela da produção de manufaturados do mundo; em 2009, representou 18% do valor agregado industrial mundial. A participação chinesa no valor adicionado mundial na indústria de transformação de alta tecnologia também saltou de 4%, em 2000, para 18%, em 2009. Atualmente, a China assume a condição de segunda nação mais importante na produção de material de escritório e informática do mundo, na produção de material de rádio, TV e comunicação, e a primeira na produção de veículos automotores e nos investimentos na indústria aeroespacial, de supercomputadores e de núcleos eletrônicos, entre outras posições estratégicas mundiais.

Por conta disso, a China deve ultrapassar a posição dos EUA durante a segunda década do século XXI, embora isso não signifique necessariamente o desaparecimento das centralidades dinâmicas das economias pertencentes à União Europeia e aos Estados Unidos, mas o que se destaca é o aparecimento de um mundo multipolar. Além da Ásia – especialmente a China e Índia – há um espaço regional capaz de gerar uma nova centralidade dinâmica no sul do continente americano, com forte importância para a economia brasileira.

Em síntese, o Brasil passa a ter maior relevância num novo contexto mundial multipolarizado, bem distinto daquele verificado durante o momento de sua constituição, em que os Estados Unidos exerciam uma centralidade unipolar. Mas o seu reposicionamento deve partir de um olhar de mais longo prazo, uma vez que as alternativas estão postas. O deslocamento do centro dinâmico estabelece oportunidades inequívocas de reforço da pujança econômica brasileira. Mas isso pode ocorrer tanto pelo lado da Fazenda, Mineração e Maquiladora dos Produtos Manufaturados (FAMA), como pela via do encadeamento dos sistemas produtivos a partir de maior agregação do Valor Agregado e Conhecimento (VACO).

As alternativas estão postas, com a China presente no novo centro dinâmico mundial. Ao Brasil, cabe uma decisão clara e objetiva em torno do papel que deseja desempenhar neste novo contexto internacional.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A ilusão do mundo "escravo" moderno

Vamos recapitular algumas coisas:
- Os 1% mais ricos, decidem em seu fórum de Davos ou em organismos internacionais como o Banco Mundial, para onde, como e de que forma toda a riqueza concentrada e a ser explorada vai ser consumida.
- Os 99% restantes, ao achar que é assim mesmo, que a terra tem dono, que o negócio é trabalhar e consumir, aceitam tranquilamente e seguem a sua escravidão moderna.
Como consolo, possuem a ligeira impressão de que no voto, poderão de fato escolher seus representantes para gerenciar ao menos a maior riqueza – seu País.
Enganam-se ao achar que democracia é a liberal. Acabam apenas se abnegando do direito de decidir.
Todavia, esse sistema se mantém pelo medo. Medo do desemprego, medo de não ter dinheiro e medo de não saber decidir.
Na sociedade moderna, inventam esse tal desemprego pra mostrar que o emprego além de uma dádiva, é fundamental e sempre existiu.
Inventam esse tal dinheiro pra justificar trabalho. Assim, somos escravos modernos. Trabalhamos para receber o dinheiro que vai pagar nosso crédito. Trabalhamos não por ser realizados mas para consumir.
Ao inverter valores e reduzir os naturais aos sintéticos, transformamos o mundo num grande monstro consumível.  Desde os sentimentos, angústias e felicidade, até a água.
Entretanto o mais ousado é a mercantilização da humanidade. Mulher vira puta ou animal. Negro vira mão de obra-barata, o ser humano tem um preço.
A base do sistema se torna o consumo. A obrigatoriedade, o lucro.
Num momento de crise estrutural, tais princípios base do sistema, precisam ser relativizados.
Precisamos “desmaquinar” as relações, deixar de produzir em grande escala, humanizar as relações, propor um novo grande pacto para uma alternativa ao que está posto.
Para a própria sobrevivência das relações sociais, econômicas e produtivas, já que o capitalismo mostra seus limites em termos especulativos e produtivos.
É preciso que o ser humano decida se vai querer um constante crescimento ou a manutenção de um bem viver. Entendendo bem viver como algo estável, distributivo, inclusivo e democrático.
Dessa forma, proponho o fim do objetivo principal – acumular.
Ao entender a humanidade moderna como o fim da história, ou a consequência do desenvolvimento, achamos que não há outra saída, que o homem sempre foi assim e que esse é o único meio de se viver.
Esquecemos que no mundo moderno, nossas ações são realizadas de acordo com as construções mentais e definições ideológicas antinaturais.
Tudo para não trazer a tona o verdadeiro mito, o fetichismo do trabalho necessário, do consumo como meio e da democracia liberal como único jeito. O mito dos bilhões de escravos que seguem pasteurizados e “ocupados” com todas as “invenções” lixo do mundo moderno.
Assim como o mundo de hoje, fora construído a cerca de 300 anos atrás nas revoluções políticas, industriais e econômicas, podemos neste século, apontar o mundo que queremos para nossas próximas gerações.
Um mundo com estabilidade produtiva, com durabilidade tecnológica e com distribuição das grandes acumulações privadas.
Infelizmente não conseguimos avançar para além do paradigma da propriedade absoluta e do Estado centralizador. Continuar sem desconstruir esse mito é fadar nossa humanidade ao fracasso.
 Pedro Teixeira

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Eleições 2012, a prática é critério da verdade


2012 caminha para a redefinição da correlação de forças no Espírito Santo. Os partidos que se uniram em torno do combate ao crime organizado, do controle das finanças e da eficiência da máquina publica, debate capitalizado por Paulo Hartung e seu bloco histórico vêem com a subida de CASAGRANDE ao poder e a redefinição das alianças do PT em Vitória, uma brecha para reorganizar seus leques de alianças. Resultado de uma várzea ideológica que temos no multipartidarismo brasileiro.

O descolamento do campo orbital petista de setores ligados à Paulo Hartung, sinaliza que na Geopolítica do ex-governador, política boa é mesmo a que caminha em vôo solo, de preferência o seu.  

O Partido dos Trabalhadores, para ter sucesso em sua candidatura e viabilizar IRINY neste cenário, além de ter que torná-la mais flexível a outros setores e grupos que não seja o seu para montar sua coalizão, principalmente interna.

Precisa urgentemente contrapor e apresentar as diferenças do seu modo de fazer governo e política em relação a todos os outros partidos.

Na era Hartung, O Estado insistiu em continuar com um modelo de desenvolvimento de matriz bruta, com pouco valor agregado e com pouco desenvolvimento tecnológico. Insistimos em abrigar em nossa terra mega-projetos de poluição e impacto para o Estado, ao invés de incentivarmos a organização de pólos de inovação e tecnologia de ponta.

Insistimos em não ter um modelo alternativo ao comodities-exportador, nem buscamos crescer de forma sustentável e antenada com a imposição que uma nova ordem global nos coloca. Insistimos em achar que aqui somos uma ilha, no melhor estilo John Donne de não ser.

Optamos em deixar os grandes debates e as grandes decisões para o futuro, pensando que talvez ele nunca chegaria.

Tal decisão, além de ser de caso pensado, nos obriga a contraditoriamente finalmente em 2012 caminhar em lados opostos ao de Paulo Hartung.

O isolamento do PT na “Geopolítica, precisa vir acompanhado por concepções claras de diferenças de projeto e de visão para a máquina pública capixaba.  A começar na cidade de Vitória.

Em dois mandatos a frente da cidade, Vitória virou referência em gestão eficiente (ganhando inúmeros prêmios e servindo de know how em políticas públicas no Brasil),investimento recorde em gastos sociais (tendo cerca de metade de seu orçamento nesta temática) e investimento em infra-estrutura. 

O desafio para o PT é conseguir reavivar a militância, “botar o bloco na rua”, construir seu projeto de governo desafiador e mostrar a toda a população capixaba a diferença da administração petista frente aos desmandos neoliberais.  

Os índices recordes de aprovação do Governo Dilma só existem por que lá atrás, definimos nossos aliados e aqueles que representam o atraso.

No Espírito Santo essa é a hora de chamar  a população para a necessidade de aprofundarmos a Vitória de Todos, principalmente dos desamparados pelo mercado, pela crise neoliberal e por essa política arcaica de concentração de renda na exportação e nos abastados de Vitória.

Essa é a hora da população analisar com lupa os dois projetos de cidade e de Estado que nos é colocado e perceber que a era Hartung de acordãos precisa chegar ao fim.


Pedro Teixeira
Secretário Estadual da Juventude do PT/ES

Por que ainda falar em Juventude no Brasil?

1.       
Segundo dados da ONU, o Brasil está em 5º lugar na relação de volume de jovens na população e é responsável por 50% dos jovens da América Latina e 80% do Cone Sul. Dados do IPEA mostram que a juventude brasileira já em 2010 contava com aproximadamente 51 milhões de pessoas. ¹ (Juventudes e políticas sociais no Brasil, IPEA – 2009)

Diferente do mundo desenvolvido que tem atualmente uma população majoritariamente adulta e caminhando para o envelhecimento, principalmente por conta da estabilidade econômico-social, da redução dos índices de mortalidade e fecundidade e da exacerbação do individualismo, no Brasil temos em pleno século XXI um boom populacional que tem provocado um inchaço central na pirâmide demográfica haja vista o “resultado de uma característica particular da dinâmica demográfica brasileira dos anos 1970 e 1980, conhecida por “onda jovem”² (Juventudes e políticas sociais no Brasil, IPEA – 2009, capítulo 2).


Tal “Onda” Segundo Bercovich (Indicadores sociais: uma análise da década de 1980,1995, p. 46), iniciou-se  com o crescimento demográfico peculiar das décadas de 40,50 e 60. Entre 1965 e 1980, a geração de homens e mulheres deste período cresceu significativamente em termos quantitativos em função das altas taxas de natalidade observadas pela geração anterior.  Verificou-se a partir daí, do ponto de vista demográfico, a existência de períodos caracterizados por uma “onda jovem”. Já na década de 80, o crescimento foi baixo, tendo como resultado da redução das taxas de fecundidade verificadas a partir de 1960.

Já a partir de 1990 e 1995 no epicentro da crise econômica brasileira, das privatizações e demissões em massa, do desemprego batendo recorde junto com a pobreza e a desigualdade social, pode-se dizer que houve um revigoramento desta “onda jovem” em função de que as jovens nascidas no período anterior (1965 a 1980) mantiveram elevadas taxas de natalidade (independente da redução da fecundidade), resultando em um novo momento de crescimento deste segmento populacional.

Mais do que um número, as juventudes são uma camada da população com especificidades e contradições dignas de categoria social no mundo moderno.

Falar de juventude é falar de uma etapa da vida em que o caráter, as concepções e as certezas de um futuro estão sendo adaptadas e definidas.

É o momento em que qualquer cidadão organiza direta ou indiretamente a sua base para o futuro. Seja nos estudos, no trabalho, no romance, nas amizades, na relação com a família ou com a sociedade.
Levando para o macro, juventude é toda uma categoria social que nesta década bate todos os recordes populacionais, alcançando cerca de 1/3 da população do Brasil e que estatisticamente se coloca na possibilidade de decidir o país do futuro.

Os avanços oriundos das políticas públicas de juventude inaugurada pela lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, não nos garante ainda, que essa juventude tenha voz e vez na formulação de uma plataforma de desenvolvimento nacional que além de ter que resolver o problema da marginalização e exclusão juvenil, precisa apontar saídas para o colapso social que a globalização tem asseverado a partir da juventude.

A geração dos anos 1990, a atual juventude, talvez por só ter experimentado o regime democrático neoliberal, tem caminhado para a virtualização de suas decisões e a pasteurização de suas vontades.

Além disso, vai caminhando para aceitação de uma concepção de juventude onde a tutela parental e estatal aparece como única solução para seus chamados “desvios”.

Tal modelo, além de tirar das mãos do jovem a opção de se tornar sujeito de direitos ativo na construção de seu meio e país, caminha para o desenvolvimento de uma juventude líquida, flúida e por que não, estúpida.

Dessa forma, falar de juventude neste livro é falar da necessidade do Brasil de organizar políticas públicas de proteção, inserção e emancipação de toda uma juventude que nos próximos 10 ou 20 anos deverá ter completado sua transição geracional correta ou não, para dirigir o país do desenvolvimento.

Estudar a juventude aqui é propor o leitor a refletir sua cognição de forma que tenhamos respostas para crises de paradigmas que a atual geração de jovens no Brasil enfrenta para tomar a frente de seu país.

O Brasil não achará seu caminho no desenvolvimento, sem desenvolver mecanismos que conectem a juventude com a geração velha, sem mecanismos que tragam a juventude para o processo de participação democrático-social nem achará o seu caminho enquanto tratar as diversas juventudes como segmentos violentos que precisam de atenção. 

Dessa forma, continuar a estudar e propor modelos alternativos de Juventude para o Brasil, não é desconstruir 10 anos de avanços em formulação e execução de PPJ’s, é acentuar e intensificar modelos que de fato possa transcender as políticas públicas localizadas e setoriais para que de fato tal segmento se encontre e comece a construir a sua própria 
história. 


*Pedro Teixeira