terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Carta ao Doutor Watson

Caro Dr. Watson;



Me sinto sem as mãos. Talvez sem os pés, mas minha cabeça voa... voa como nunca.
Sinto que nada é suficiente. Nada se encaixa. Não sei, tudo ultimamente tem se tornado como um enorme quebra-cabeça onde por mais que se tente, nunca consigo terminá-lo, há sempre uma peça... Aquela peça que está faltando...
Ah, como dói... e não falo de alguém, me refiro à algo.

As mãos, Estão aqui. Eu as vejo. O problema é que me escapam... Sim, as coisas me escapam.
Já não sou mais o mesmo. Não mais agarro, não mais sinto...

Os pés? sim, os sinto... O problema é a encruzilhada que me encontro... já não me obedecem.
Não sabem para onde ir, não sabem onde pisar...

E, talvez o senhor me pergunte e seu coração meu amigo, como ele está?
Não sei Doutor, ele bate... bate... bate...
Mas é como algo oco, vazio por dentro sabe como é? como as cordas de um violão tocando no enorme vazio de suas entranhas ocas. Só madeira...

Assim que me sinto, só o corpo.

Isso é sintoma pré-depressão? uma nova crise de identidade? você estava lá! 
Sim, na primeira crise, me acompanhou. 
Achei que era só uma que tínhamos...
E agora o que fazer? 
A felicidade meu caro, está tão artificial, tão momentânea, infeliz.
Não que sinta falta de outrora...
Não! uma volta é improvável para mim.

O que sinto é uma falta de vontade do que fazer, um motivo, um alguém.

Lembra do violão Doutor? falta o som... o som... o som...
É ele quem dá o motivo de existir para o instrumento, é ele o motivo da extasia, do encontro, do ranger das cordas, do atrito da mão e madeira...

Precisava disso...
Lembra daquele filme, um em que tudo era colorido, belo, eterno... E, derrepente perde-se a cor, esmureçe-se deixa de ter sentido e fica sem graça, em tons de cinza? como era o nome dele mesmo meu amigo? Não faz mal, lembro-me muito bem...

Há cura? tratamento? ajuda ou será só o tempo?

Quem pode dizer Doutor? você? Eu? não, só o som, aquele do violão, o motivo existir...
Só assim tudo isso terá fim e o meu mundo voltará...
Sim meu caro, aquele mundo você lembra? você esteve comigo, sei que há algum tempo.
Mas ele não era assim, havia cores, havia sentidos, cheiros, gostos, amor!

Sabe o que me alegra Doutor? é, ainda que só com você, poder contar.
Sei que não há respostas, só ouvidos... não tem problema, pelo menos você me ouve...
Pelo menos você me sente, entende.
Não o vejo, não o sinto, não o percebo. Mesmo assim, isso me consola...

Ainda que sinta que o mundo me esqueceu, ainda que só cheire o mau-odor da malícia e da maldade, ainda que só veja o escuro, o partido, o impuro, ainda que só sinta a dor e não o calor...
Mesmo assim, é bom saber que vai mudar. Já mudei outras vezes não foi?
Deu certo não deu? Que bom...

Assim fico mais tranqüilo e espero você voltar. 
Espero o mundo voltar.

Espero de braços abertos... Sei que vai voltar melhor, sei que agora será diferente.
Não o mesmo mundo. um mundo diferente, um melhor...
Um que me entenda, um incondicional...
Que valorize o carinho, ele é tão difícil não é? um que provoque a odisséia de sentimentos que nos faz tão feliz!

Obrigado Doutor, amigo, meu caro. 
Aguardo uma visita...



Pedro Luiz

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