sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cenário político da esquerda Brasileira – Por uma revolução cultural já!


*Pedro Teixeira

Gostaria de fazer algumas considerações que no tilintar da primeira leitura podem parecer banais ou repetitivas, mas que merecem  devida atenção daqueles que verdadeiramente possuem um compromisso com a esquerda brasileira.

Norberto Bobbio em “Direita e Esquerda, Razões e significados de uma distinção política” elenca claramente a necessidade de identificarmos o que é essa divisão feita na política e que contribui para nos ajudar a visualizar a própria noção de construção da sociedade.

Entre outros pontos, além de refutar qualquer tentativa que queira dirimir o papel desta divisão ou enfraquecê-la, tenta elucidar de forma bastante didática a necessidade de construirmos uma esquerda que esteja além da esquerda constituída até então pela velha díade comunismo-capitalismo. Para ele, o extremismo da esquerda clássica que da mesma forma que o extremismo da direita clássica é antidemocrático, por si só  esgota qualquer possibilidade de mundo que não seja construído sob os modelos totalitários ou o despóticos.

Esgota por que não possui em seu seio posturas que garantam a democracia ainda no momento de perda do projeto. Pelo contrário, a esquerda clássica ao se colocar como dona do único projeto capaz de acabar com a desigualdade e instituir o igualitarismo social, transforma qualquer tentativa democrática de oposição a ela como ameaça digna de ser liquidada. Ela se aproxima assim do Stalinismo e do Facismo ao se colocar como a única visão de mundo correta e certa, se aproximando ao outro extremo – A direita tão duramente combatida. Em suas palavras:

 “... fica bem claro que um extremismo de esquerda tem em comum a antidemocracia (um ódio, senão um amor). Porém, a antidemocracia aproxima-os não pela parte que representam no alinhamento político, mas apenas na medida em que representam as alas extremas naquele alinhamento. Os extremos se tocam”. (grifo nosso)

E ao se tocar, acaba por perder completamente o compromisso com o projeto de esquerda tais como a igualdade, a liberdade, a democracia, a distribuição da riqueza social, o combate da política vertical, o respeito aos direitos do homem, a emancipação.]


Não se leva em consideração a disputa de hegemonia democrática gramsciana num cenário de disputa da sociedade civil, novo ator surgido na era capitalista recente.

Ao radicalizar sua posição e levá-la ao extremismo, a esquerda radical de tão radical na circunferência acaba por tocar a outra esfera da díade – a direita radical que em suas posições extremas, também caminha para os únicos modelos possíveis a esta visão política: o totalitarismo e o despotismo. Mesmo que seus teóricos sejam diferentes ou olhados sob outra perspectiva, no final o modus operandi da condução do Estado se torna tão opressor quanto o burguês-liberal.

Com essa formulação de Bobbio (UNESP, 1995), conseguimos identificar alguns elementos presentes no cenário político atual que é o cerne deste texto.

A esquerda brasileira, basicamente está organizada sob a égide de dois campos:

O Partido dos Trabalhadores com seu projeto moderado de Revolução Democrática e o Esquerdismo capitaneado pelos partidos oriundos do PT pós década de 1990.

O Partido dos trabalhadores que mesmo com seus antagonismos e contradições inerentes a qualquer relação humana que em sua básica formulação está compreendida entra a dialética infinita da contradição e da síntese, optou pelo desenvolvimento de um projeto de nação que se desenvolvesse gradualmente (respeitando linearmente o jogo democrático) o socialismo. A este projeto se deu o nome de “Socialismo Petista”.

Na outra esfera, vemos se desenvolvendo ainda sem formulações concretas e teóricas o projeto da esquerda extremista de nação, baseado na crítica ao PT, ao Governo Lula I e II e agora ao de Governo Dilma. No combate a toda e qualquer tentativa de composição necessária ao jogo democrático com os atores que não estão no projeto petista mas são necessários para a governabilidade adotada pelo PT para transformar o País e na reafirmação da necessidade de se implantar o velho modelo clássico de socialismo baseado em suma no marxismo-leninismo-trotskismo que infelizmente não consegue dar respostas aos novos elementos e complexidades que o capitalismo impôs no atual estágio de desenvolvimento da sociedade.

Além deste velho modelo, ressurge na cena política brasileira e mundial atores bem conhecidos por Bobbío que são “carinhosamente” apelidados com o nome de “Os Verdes”.
Estes para Bobbio são movimentos que não se inscrevem (e eles próprios consideram ou pressupõem não se inscrever) no esquema tradicional da contraposição entre direita e esquerda. Dessa forma os verdes portanto seriam movimentos de Direita ou de Esquerda? Para Bobbio esta pergunta é respondida não de acordo com o seu movimento – em favor do ambiente, mas conforme a maneira de agir, e os posicionamentos adotados por estes “novos” atores no cenário político.

Infelizmente no Brasil, neste último processo eleitoral os “Verdes” se comportaram em favor da direita posta, contribuindo para além de mitigar os votos da esquerda organizada, trazer para a campanha atores que outrora despolitizados – a juventude neoliberal, que viu na bandeira ambiental o único diferencial na escolha do voto e que criou uma transversalidade de postura política irreal, como se você possível apagar os dois pólos de visão de mundo que estavam em jogo para o país – o de Direita e o de Esquerda.

Com esse jogo ideológico, se tentou implantar  uma visão de Brasil que olhasse através de e para além de esquerda e direita. Um projeto sustentável e renovável que fora confundido e ao meu ver intencionalmente, com projeto de País. Ser ambientalista e pregar a racionalização dos recursos é uma opção de condução de gestão, não um projeto ideológico de visão de mundo. Confundir os dois é querer acabar com a polarização entre Direita e Esquerda e na realidade contribuir para a manutenção do Capitalismo e da antítese opressor e oprimido. Fazendo um papel pior do que o extremista já que este pelo menos leva a uma ruptura de ordem na condução do Estado o que na proposta dos “Verdes” nem isso é feito. O que retarda ainda mais as profundas e reais transformações democráticas e socialistas.

Por tudo isso, venho reafirmar a ampla necessidade de fortalecermos o Partido dos Trabalhadores em prol do fortalecimento de seu conteúdo programático e ideológico comprometido com a esquerda, com a emancipação social, com a transição geracional da juventude e com o próprio debate ambiental que se faz urgente na atual esfera do capitalismo mundial.

Tencioná-lo em prol de sua desconstrução e divisão é fortalecer a Direita posta e os “Verdes” que por seus posicionamentos massificam o debate conservador direitista. Além disso, negar as reformas nas estruturas do País ocasionadas pelo PT no Governo Federal desta última década e caminhar para o esquerdismo extremista é se aproximar cada vez mais da antidemocracia e da direita, além de fortalecer um socialismo que não coaduna com a nova realidade imposta ao proletariado e ao seu partido.

Portanto, o caminho certo a se seguir é disputar os espaços dentro do Movimento Social, fortalecê-lo para a disputa por espaço dentro do Estado, disputar as posições de esquerda para dentro do Partido e conseqüentemente disputar o governo que não é socialista e que tem em seu seio inúmeros burocratas conservadores e reacionários prontos para retroceder todo o avanço conquistado até então.

Além disso, não viabilizar uma ampla e extensa revolução cultural capaz de ganhar as mentes e os corações desta nova geração de País que ingressa no mercado formal e na população economicamente ativa, é garantir a não perpetuidade de nosso projeto comprometido com o socialismo, a gradualidade e a democracia. Afinal, neste projeto, a única coisa de certo é a democracia para a disputa dos rumos da nação. Tanto da parte da Esquerda socialista quanto da direita neoliberal.

Juventude, Uni-vos.
Por uma revolução democrática e aprofundamento das reformas sociais já!

Viva os 31 anos do Partido dos Trabalhadores.

*Pedro Teixeira é da Juventude do PT do Espírito Santo. Estuda Direito na UFES e é da Diretoria Nacional de Relações Institucionais do Movimento Mudança.

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