*Pedro Teixeira
Há
séculos atrás surgiu na humanidade a Teoria de que ao nascermos, somos como
tábulas rasas. Locke ao afirmar-nos assim, queria chamar atenção para o fato de
que somos fruto de nosso aprendizado com o meio social e ambiental que vivemos,
perfeitamente modificáveis. Queria se libertar do enrijecimento escolástico
liderado pela Igreja Sacra.
Passado
alguns séculos, com o fim da guerra fria e das verdades dualistas que o mundo adquiriu
na disputa URSS x EUA os teóricos do pós-muro de Berlim capitalista, chegaram a
afirmar o fim da História.
Vimos
com o estruturalismo filosófico a tentativa de encararmos realidades que por
terem superado seus questionamentos iniciais de validade e eficácia num dado
momento histórico, se tornaram realidades objetivas universais e imutáveis.
O
que temos de novo? A modernidade recente travou uma luta política, ideológica e
econômica para tornar o estruturalismo hegemônico, e assim, conseguir proclamar
o fim da história. Remontaram-se num período do Hegelianismo clássico para
afirmar ser de Hegel tal concepção.
Não
entendiam toda via que Hegel, filósofo como era, precisava montar um sistema
aonde em dado momento se chegasse a um topói, um limite de sustentação de seu
arquétipo para se vir justificado ainda que tal justificação carecesse de
realidade concreta.
Tanto
é assim que toda a obra Hegeliana nunca negou pela dialética, ver sua realidade
superada pelo tempo, pois “tudo que é real dentro dos domínios da história
humana, com o tempo vira irracional.”(Textos Filosóficos – Marx, Karl e
Engels, Friedrich, 1845).
Optou
o estruturalismo burguês, de se apropriar ideologicamente apenas de seu sistema
filosófico e abandonar sua dialética do pensamento.
Brilhantemente,
Marx juntamente com Engels perceberam a “falha” ideológica e se desviaram do
pensamento Hegeliano, para a vertente dos jovens hegelianos mais a esquerda,
com vista a superação das verdades e ordens universais que, como todo contexto
histórico, em algum momento deveria ser dado como irracional e irreal.
Via-se,
portanto uma profunda crítica aos filósofos da Escola Alemã que sob a égide de
revolução silenciosa pelo espírito de ideias, nada observavam sobre as
angústias sociais da Prússia faminta do Estado absolutista. Pelo contrário,
justificava a justiça pelo princípio da legitimidade do Estado em agir em
exploração e desolação com os hierarquicamente inferiores.
Ao
afirmar Marx que “os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de modos
diferentes, mas o que importa é transformá-lo”, podemos ver já no século XIX
uma profunda clareza sobre a humanidade enquanto produto de sua história e
superação.
No
século XXI, com o ápice do sistema capitalista em que corroboro com Hobsbawn,
Boaventura, Milton Santos e Rosa Luxemburgo, que caminha para a “barbárie”, vemos na sociedade atual um giro de concepção
automático, sem “reflexão” em que o cada vez mais individualizado, fragmentado
e imediatista se resume a capacidades de contemplação egocêntrica, dualista e torpe que nos incomoda.
As
eleições em 2012 ao menos no Brasil foi o maior prenúncio de que ao menos no
plano político, caminhamos para a Barbárie enunciada por Rosa Luxemburgo e pela
qual optamos esquecer-se de ouvidos.
Não
só exacerbadamente o personalismo ficou acima dos partidos e seus conteúdos
programáticos, como a população, extremamente preocupada com seus afazeres
novos e muito mais intensos assumidos no último período do Governo LULA com o
incremento no poder de compra, nível de escolaridade e tempo livre, renegou e
se desacreditou do papel da política na transformação social.
A
mídia, acompanhada do fortalecimento das instituições punitivas e do
aprimoramento das leis contra a corrupção, inseriu no eleitorado a ideia de não
legitimação do sistema político vigente.
Assentou-se
assim o sentimento de capacidade de compra e de substituir o Estado e sua
política pelo mercado e pelo consumo.
Sendo
assim, a falta de eficácia e validade do processo eleitoral (Bateu recordes em
votos nulos e brancos, houve esvaziamento partidário – teve candidatos em que a
logotipo partidária sequer apareceu), traz a urgente reflexão de que este dito
fim da história, no que se aplica ao atual modelo político que rege o País,
precisa de profundas transformações.
O
Próprio PSOL que há 7 anos atrás, saía do PT contra as “espúrias
alianças-eleitorais com partidos sem alinhamento tático nem estratégico
ideológico” (carta de saída da APS, 2005), obteve neste ano um incremento em
sua população governada, saltando dos cerca de 3% para algo em torno dos
10%. Isso tudo, sob uma nova concepção
de alianças e governabilidade que em nada se diferencia do PT ou dos demais
partidos no sistema brasileiro.
Fechou-se
com o DEM, o PPS, o Sarney e o PSDB em locais conjunturais sob justificativas
pessoais.
O
PT optou, ainda que 20 anos após sua fundação em aceitar e a ceder às políticas
de alianças em nome de governar o País. Já está no comando do poder executivo há
uma década e em 2012 mostrou sua vitalidade e capacidade de reoxigenação com a vitória
de Haddad em São Paulo, bem como em suas reformas de organização interna
oriunda de seu 4º Congresso sobre a fidelidade partidária, a limitação de
candidatar-se no poder legislativo por mais de 4 vezes e na reserva de vagas
para mulheres, negros e jovens nas instâncias de Direção do partido entre seus
militantes.
Vimos
também a exposição de vários outros novos quadros para a disputa eleitoral,
condizentes com os anseios da classe social emergente criada a partir dos
Governos do PT, bem como a notoriedade no plano da Política de Desenvolvimento
Nacional, na implantação de um Estado de Bem Estar-Social que distribui renda,
fortalece as instituições nacionais, garante emprego e fortalece nossa
soberania, o que nos diferencia da Social Democracia Neoliberal Privatista, mas,
que infelizmente ainda é capitalista.
O
PSOL abre mão de seu programa em suas alianças em nome de quê? Um dia dirigir o
País? Razoável e inteligente para um partido que essencialmente disputa poder. Mas
se é esse o motivo, por quê não defende a REFORMA POLÍTICA? Por que não se alia
para a superação da Socialdemocracia em nome de uma nova ordem? Por que insiste
em criticar o PT? Quer desconstruir o caminho trilhado, fazer exatamente igual
e depois deixar outro para executar sua transição teoricamente pensada?
Não
espero respostas finais, até por que elas mudam conjunturalmente. Escrevo, para
evidenciar o fetichismo que nos impõe ao afirmar que a política vista pelos
acordos espúrios, pelo assistencialismo, pela corrupção, pelo patriarcalismo e
pela individualidade é a única possível.
Uma
verdadeira Reforma Política, aliada a uma necessária reforma cultural e de
democratização das informações, não só urge em vitalidade para o Brasil ideologicamente
desfarelado que saímos destas eleições, como é fundamental para a continuidade
do processo de transformação do Brasil, a formulação de uma nova ordem que por
ser democrática, precisa ser fruto de nossas experiências acumuladas, dentro de
uma novo ambiente possível.
As
verdades absolutas e universais de Habermas, só auxiliam as ordens vigentes. A
análise do materialismo contemplativo de muitos teóricos marxistas com seu
ultrajante rigor, como o próprio Marx categoricamente afirma, só os ajudarão a
estabelecer uma “contemplação dos indivíduos isolados e da sociedade civil” (Marx,
Textos Filosóficos, Pag 11) porém sem transformá-la.
O
objetivo, quando a esquerda assume o poder, deve ser, portanto o de transformar
a ordem vigente para uma nova realidade sem nos esquecermos de que “Toda a vida
social é essencialmente prática. Todos os mistérios que fazem desembocar a
teoria do misticismo encontram solução racional na prática humana e na
compreensão desta prática” (Teses Sobre Feuerbach, Pag 23)
Se a compreensão prática é a de que se fazem
necessárias etapas de transição para países como o Brasil, de dimensões
continentais, na modernidade líquida da atualidade, se faz urgente que essa
transformação venha pela superação da Verdade Universal e pela busca prática de
uma verdade necessária, mas para nosso atual momento histórico e que tenha base
dialógica com o pragmatismo Rortysiano da justiça, democracia e equidade
concreta nas relações entre a sociedade e a natureza.
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