domingo, 15 de janeiro de 2012

Nota pública da Conecta UFES em defesa da não-criminalização dos movimentos sociais e de um Transporte Público plural e de qualidade.

O Governo do Estado do Espírito Santo aumentou no dia 06/01/2012 à tarifa dos ônibus da Região Metropolitana da Grande Vitória – TRANSCOL, em R$ 0,15. A tarifa final para o usuário do sistema passou de R$ 2,30 para R$ 2,45. 


Atualmente, a tarifa total paga às empresas de ônibus é de R$ 3,05 por passagem. Sendo que desde valor, R$ 0,60 é pago pelo Governo do Estado em forma de subsídio num valor total de aproximadamente R$ 70.000.000,00 (70 milhões) por ano.


Nós da Conecta UFES entendemos que o desrespeito do Governo ao aumentar a passagem e não propor maneiras efetivas de remodelar o sistema de transporte público da Grande Vitória que continua caro, ineficiente e lotado, além de ir contra os interesses da população, foi a causa das manifestações.

Tal atitude não responde às necessidades urgentes de quebra do monopólio do transporte rodoviário e a constituição de novas matrizes mais eficientes, sustentáveis e modernas como os corredores de ciclovia, o aquaviário (desativado à décadas) e o próprio VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou METRÔ que fora engavetado sem nem se captar recursos ou propor audiências públicas de implantação.


Mesmo não concordando com a radicalização de início do Movimento, é fundamental que tenhamos um debate sério sobre a mobilidade urbana na Grande Vitória.


Se o momento é este, o movimento atual precisa urgentemente de ampliação, englobando vários segmentos da sociedade civil organizada, principalmente de Juventude, tais como a Frente de Juventudes para discutir PPJ’s no ES, sindicatos, direitos Humanos, Professores, a PJ e os movimentos pela moradia.


Só assim é possível uma manifestação estudantil contra o aumento se tornar um anseio público da população capixaba por transparência nas ações do Governo, respeito as mobilizações sociais e principalmente um instrumento de conquistas por um novo modelo de transporte e de regulação deste setor que há décadas é concentrado na mão de 2 empresas no Espírito Santo.


É urgente que o Governo coloque os movimentos sociais e principalmente a juventude como sujeitos de direitos e atores políticos. Não adianta criar comissão só para OUVIR os estudantes, é preciso disposição do Governo em de fato construir formas de transporte que não priorize o lucro de empresários e em quebrar o monopólio de uma única forma de transporte em massa, o transporte por ônibus.


Neste sentido defendemos:


- Ampliação do movimento (MCA) para uma discussão não somente da tarifa;

- Revisão dos contratos de pagamento das concessionárias do Transporte;

- Fim do monopólio do TRANSCOL na mobilidade urbana;

- Respeito à Juventude e aos estudantes e suas mobilizações;




Vitória, ES – QG CONECTA, UFES – Goiabeiras





CONECTA UFES - Gestão 2011-2012 – DCE UFES

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Nota da JPT em defesa das liberdades democráticas, da livre manifestação e da não-criminalização do movimento estudantil no Espírito Santo


Nesta quarta-feira estudantes e cidadãos saíram às ruas protestando contra o aumento da passagem. Estavam indignados com o recente aumento na passagem do TRANSCOL que com o subsídio, foi para R$ 3,05 onde R$ 0,60 são pagos pelo Governo Estadual.

A JPT é contra esse aumento por entender que nas últimas manifestações realizadas em 2011, o Governo concordou em não aumentar a passagem no ano de 2012 sem antes conversar com os estudantes. Fato que não ocorreu.

A catarse entre a manifestação e a queima de um ônibus, não pode ser criminalizada.  
Há décadas a juventude e o movimento estudantil reivindica seu espaço como protagonista nas lutas de seu tempo e como cidadãos com voz e direitos.

A própria pauta em defesa do passe livre para os estudantes e de um transporte público de qualidade é resultado de anos de manifestações contra o modelo de transporte público que prioriza as empresas concessionárias e estimula o uso de veículos emissores de carbono sobre rodas ao invés de outros modais mais modernos e sustentáveis como o Aquaviário, o VLT e a ciclovia.

O Estado já teve um rompante de quebra do monopólio com o Aquaviário que imediatamente foi desativado.

O Sistema Transcol precisa ser revisto juntamente com todo o sistema de mobilidade urbana do Estado. É inadmissível que numa região metropolitana com mais de 1,5 milhões de pessoas, o único meio de transporte seja o ônibus.  

O Governo ao invés de aumentar a passagem, pode desonerar os custos da tarifa cortando impostos do diesel, dos pneus e de componentes rodoviários.

Além disso, pode diminuir os juros dos empréstimos para compra de novos ônibus da frota TRANSCOL e assim mantê-lo viável sem aumentar tarifa.

É preciso uma auditoria no modelo de contrato que subsidia a fixação da tarifa. Além disso, o governo precisa executar urgentemente projetos que diversifiquem e acabe com o monopólio do transporte público na Grande Vitória.

Quanto aos eminentes protestos e mobilizações é urgente uma reavaliação profunda na condução das manifestações e da relação do governo com o movimento.

É preciso que além de disponibilidade para o diálogo, haja disposição real em ceder e melhorar a vida de toda a população.

Não aceitaremos que estudantes e o movimento social sejam criminalizados. É irrevogável e foi conquistado a duras penas, mortes e torturas o direito à manifestação, desde que ela ocorra de forma pacífica. Deste direito não abrimos mão.

Todo apoio a população em defesa de um transporte público mais eficiente, humano, de qualidade e que não se baseie exclusivamente no sistema rodoviário.

Todo apoio aos estudantes que ousam consertar o que está errado quando tudo parece ser tão certo.


Cidade de Vitória,  

Executiva Estadual da JPT

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Nota da Juventude do PT sobre o recorrente aumento da passagem do Transporte Público da Grande Vitória – TRANSCOL.

O ano de 2011 foi marcado por mudanças. Sem dúvida a troca de gestão da coisa pública no Estado foi um fato decisivo para que tais mudanças acontecessem. 

O antigo método do poder executivo de lidar com os movimentos populares, além de ser ineficaz, era complicado e praticamente inacessível aos movimentos sociais.

Com o Governo Casagrande, o movimento social, entre eles, o movimento estudantil, retomou sua expectativa de diálogo e contrapeso do Estado, através de intensas mobilizações contra o aumento que desembocaram num dia de repressão e violência por parte de um ainda antigo Estado que mesmo no século XXI, continua a tratar sua população nos moldes do Leviatã do século XVII.

Passados aqueles dias, o Governo retomou sua capacidade de governar, proporcionou algumas medidas transitórias como o sistema online, a compra de novos ônibus, um fórum de debates, a criação do Conselho de Mobilidade Urbana, entre outros. 

Infelizmente este mesmo agente, não conseguiu avançar no cerne principal de nosso transporte público: o modelo de sistema e de contrato empregado para sua execução. 

O Espírito Santo paga mais de 70 milhões de reais num subsídio as concessionárias operadoras do sistema para que a passagem do cidadão comum fique mais barata. 

Tal subsídio, além de desindexar a conta e transformar o preço da tarifa em duas – a final e a subsidiada, descola o subsídio da realidade e inflaciona os preços. 

Para quem não sabe, hoje pagamos ao Sistema Transcol R$ 3,05 de tarifa onde R$ 2,45 são pagos pelo cidadão diretamente e outros R$ 0,60 centavos são pagos pelo Estado indiretamente.

Temos hoje, sem sombra de dúvida uma das mais dispendiosas tarifas de transporte do Brasil. 

O sistema de interligação do TRANSCOL, tão aclamado e defendido pelo Governo do Estado em 30 anos, hoje se mostra deficitário e ineficiente. Com a ampliação dos destinos finais de cada linha, temos pouca rotatividade no sistema e passageiros que num mesmo ônibus, se deslocam de Jacaraípe à Viana. 

Tal peripécia é sempre paga pelos contribuintes com viagens maiores e intermináveis e quase sempre significam poucas opções de ônibus e uma lotação absurda nos horários de saída dos trabalhadores das cidades periféricas à Vitória e no horário de retorno dessa população às cidades-limites de Vitória. 

Essa é hora de ao invés de ficarmos nos estapafúrdios discursos do contra o aumento ou a favor do aumento e de quanto ele será ou não, de começarmos a construir no Estado do Espírito Santo um clima para a criação de um novo modelo de sistema, MODERNO e justificável para uma região metropolitana como Vitória e um novo tipo de contrato, que priorize deslocamentos menores e rotatividades maiores e que indexe a tarifa final ao subsídio, afim de sua gradual extinção. 

A gestão Paulo Hartung se baseou na continuidade de um sistema arcaico, poluente e menos humano – o transporte por rodas. Resolveu dar um upgrade com o BRT e infelizmente este governo, não dá sinais de mudança na matriz de transporte. 

O problema não são os aumentos que seguem a inflação nominal. Talvez a grande revolta dos estudantes e da população seja o mascaramento do preço final de um sistema visivelmente falido e desumano. 

Somos uma metrópole com mais de 1,5 milhões de pessoas. Não podemos planejar nossas cidades para o futuro com matrizes de desenvolvimento que não dão mais certo nem em cidades pioneiras neste sistema como Curitiba, Bogotá e São Paulo. 

A juventude do PT é contra qualquer atitude desorganizada e eleitoral neste período de turbulências.

Chuvas, alagamentos, trânsito caótico, vias estranguladas. Somos contra os anos que vão se passando sem que o Espírito Santo consiga de fato achar uma gestão para a coisa pública comprometida com o futuro e com um novo modelo de desenvolvimento para o Estado que não seja rodoviário, poluidor, extrator e intrinsecamente ligado a algumas unidades de grupos econômicos desajustados. 

Precisamos ousar mais e apresentar alternativas reais de desenvolvimento que fomentem os crescimentos regionais, a produção e indústria local e que não nos deixe reféns única e exclusivamente de cartéis rodoviários para nos locomovermos e de multinacionais para produzir e crescer. 


Pedro Teixeira
Secretário Estadual da Juventude do PT

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Explorando os limites de uma esquerda reformada

Tarso Genro (*)

A esquerda, agora, precisa derrotar a direita - além das derrotas eleitorais que já lhe infringiu - no terreno das ideias. Isso significa salvar a democracia, dar efetividade às promessas de justiça e igualdade, que estão no âmago das constituições modernas. No atual período histórico, a democracia política, que era a cortesã escondida do socialismo, passa ser sua única companheira. Democracia e socialismo estão fundidos no programa de direitos e nas oportunidades de luta abertas firmemente pelas constituições democráticas. O artigo é de Tarso Genro.


Zygmunt Bauman, na primeira carta do seu livro recentemente publicado no Brasil, "44 cartas do mundo líquido moderno" (Zahar, 2011, 226 pgs.), faz duas perguntas e apresenta uma conclusão provisória: "Como filtrar as notícias que importam no meio de tanto lixo inútil e irrelevante? Como captar as mensagens significativas entre o alarido sem nexo? Na balbúrdia de opiniões e sugestões contraditórias, parece que nos falta uma máquina de debulhar para separar o joio do trigo na montanha de mentiras, ilusões, refugo e lixo."

A pergunta de Bauman tem tudo a ver com a impotência das esquerdas, principalmente nos países capitalistas mais desenvolvidos, para dar respostas a uma crise que vinha sendo prevista por alguns economistas, há mais de dez anos. Vê-se que esta, depois de revelada, apresenta características diferentes, sociais e econômicas, das anteriores. Tanto daquelas do fim do Século XIX, na Europa e na Rússia, como daquelas que ensejaram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, entremeadas pela crise aguda de 1929.

A compreensão destas diferenças é o que permitirá uma renovação do ideário e da estratégia da esquerda, em escala mundial, que atualmente se encontra em recesso conservador, como é caso da social-democracia. Uma outra parte da esquerda está fragmentada em milhares de pequenos grupos de idealistas, com causas confusas ou não raras vezes meramente corporativas.

Ambos os agrupamentos de esquerda identificam-se por estarem afastados dos cenários políticos onde se travam as batalhas pelos rumos da história: os cenários dos movimentos sociais de massas em defesa dos direitos prometidos pelas constituições modernas (teto, lazer, educação, informação livre, inclusão na sociedade de classes de maneira formal); e os cenários das disputas ideológicas com o projeto neoliberal, no âmbito da luta política democrática. A crise de personalidade da social democracia é, por outro lado, também uma crise da sua relevância na luta para ocupar governos e governar com coerência programática.

Suponho que as diferenças significativas para uma estratégia de esquerda, são aquelas que marcam os cenários, tanto nos países do centro do capitalismo como nos países "emergentes": primeiro, a rapidez com que as crises contaminam o cenário global é a mesma rapidez - com fundamento nas mesmas tecnologias informacionais - que permite a manipulação dos seus efeitos e a criação de hegemonias artificiais, para a universalização dos "remédios" anticrise; segundo, os trabalhadores do setor público e os trabalhadores assalariados de boa renda ou renda razoável, estão separados dos pobres das periferias, dos imigrantes, dos favelados criminalizados, desempregados, intermitentes ou precários. Estes constituem "ameaças", originárias de quem está excluído e cujas demandas, se aceitas pelos governos, podem exigir repartição de benefícios sociais e disputa pelos empregos dos que estão protegidos na formalidade.

Finalmente, uma terceira diferença substancial: as representações parlamentares dos partidos de esquerda livraram-se, em regra, daquela posição clássica de mera denúncia do "parlamento burguês". Substituíram, porém, esta ideologia da destruição do Estado por uma ideologia que faz, em regra, das bancadas de esquerda, mais uma soma de posições corporativas do mundo do trabalho ou mesmo de setores empresariais, do que uma síntese programática em defesa de um padrão desenvolvimento alternativo e de um novo conteúdo democrático para a república. Neste sentido, as delegações parlamentares de esquerda aproximam-se, perigosamente, da prática tradicional dos partidos cujo sentido é perpetuar uma burocracia parlamentar-profissional, alheia a princípios programáticos.

As transformações do capitalismo, que "cindiram" o campo dos assalariados e dos pobres, em geral, unificaram os "de cima”, a partir da força coercitiva do capital financeiro e da ciranda especulativa. Ao mesmo tempo, estas transformações e a necessidade de manejo da dívida pública de maneira "responsável" aproximaram do estado, em geral, os grandes grupos empresariais de comunicação e os grandes oligopólios privados.

Os estados, premidos pela dívida, e as corporações de empresas em geral (donas ou reféns dos bancos) constituem hoje (unidos todos pelas algemas da dívida pública) um "estado ampliado". Por isso mesmo é, também, um estado que vem crescentemente renunciando as suas funções públicas originárias, inclusive aquelas de dar sustento, com juros subsidiados e aportes de infraestrutura, aos investimentos dos setores produtivos estratégicos para o projeto nacional. Aqui, a lógica da globalização financeira e da dívida fala mais alto do que a ideia de nação, seja do ponto de vista do controle das riquezas naturais no território, seja do ponto da vista da formação de uma comunidade de destino que institui o "ethos" da nação.

O exemplo grego é emblemático. Não só no que se refere à "revogação" do referendo, feita pelo Banco Central Europeu, mas também no que refere às distintas reações políticas do mundo do trabalho, com suas diversas hierarquias públicas e privadas, para contestar o sacrifício das novas reformas.

Os trabalhadores, o povo grego em geral, os seus empresários nacionais, os seus setores médios empobrecidos, os seus agricultores, não apresentaram um programa alternativo de reformas, que implicasse numa nova relação com a União Européia. Não se uniram por uma saída alternativa para crise. Apenas "somaram" reivindicações de diversas categorias, públicas e privadas, de aposentados e pensionistas, de setores da indústria, sem compor um todo coerente em defesa de um novo modo de integração européia e de um novo estatuto de força para a comunidade política de esquerda, no âmbito da democracia, contra as tecnocracias financeiras. Os partidos que poderiam fazer isso, ou foram impotentes e fragmentários, ou foram coniventes ou omissos. Lembremos o que ocorreu na Grécia, na Espanha, na Itália, em Portugal...

Ao contrário do que ocorreu em outros períodos da História, nos quais os debaixo "pagavam" as crises com o desemprego e a recessão (na "destruição criativa" de que nos falava Marx), mas cobravam avanços sociais e, no mínimo, compartilhamento nas decisões de estado, no atual período -em cada crise- a esquerda sai mais enfraquecida. Uma parte dela já adotara os valores de uma desigualdade que seria modernizante e que, presumidamente, traria automaticamente melhorias para todos. A outra parte não construiu um programa de respostas, que instituísse uma nova correlação de forças política no plano interno (senão uma nova hegemonia), e ao mesmo tempo protegesse ou pelos menos sustentasse os direitos sociais já conquistados. A primeira parte da esquerda pulou o muro ou ficou encima dele e a segunda fez bravatas corporativas ou não tinha o que dizer.

Uma esquerda reformada não pode sair da tradição socialista, que, no atual período, significa concretamente opor a defesa dos direitos ao sucateamento dos direitos. Significa defender a globalização dos direitos sociais em conjunto com a globalização do capital. Defender a organização do consumo sustentável, combinada com a regulação social do mercado. Significa defender a solidariedade aos ex-países coloniais e a sua gente imigrada, opondo-se ao racismo e à xenofobia. Significa defender a estabilidade da democracia parlamentar e das instituições republicanas, combinadas com a participação direta e virtual da cidadania. Uma esquerda renovada defenderá políticas de desenvolvimento regional que partam da valorização da bases produtivas locais e da valorização das suas respectivas culturas. A esquerda renovada deve, enfim, repor no discurso político e nas ações de governo, a agenda do combate às desigualdades, tão cara à tradição socialista, social-democrata ou meramente republicano-democrática, que o neoliberalismo conseguiu arquivar.

O grande Giovanni Arrighi, falecido em 2009, chegou a ter esperança num mundo "não-hegemônico", cessados os efeitos da crise, em função da emergência da China e da policentralidade mais expressiva, que fatalmente adquiriria o capitalismo no período pós-crise. Tal mundo não se confirmou, lamentavelmente, mas as diferenças sul-norte, hoje, tem novas características políticas. As experiências latino-americanas de não aceitar passivamente as cartilhas neoliberais, embora as campanhas difamatórias contra todos os governos que se opuseram ao "caminho único", abrem novas perspectivas para o discurso e para as práticas de governo da esquerda.

A esquerda, agora, precisa derrotar a direita - além das derrotas eleitorais que já lhe infringiu - no terreno das ideias, no terreno da cultura política. Isso significa salvar a democracia, com um programa aplicável e realista cujo limite, ao mesmo tempo radical e amplo, é dar efetividade às promessas de justiça e igualdade, que estão no âmago das constituições modernas, tão duramente conquistadas ao longo de duzentos anos de lutas.

A derrota da democracia pela manipulação da informação, pela falta de crença popular na efetividade dos direitos que modernamente lhe caracteriza, pela destruição da esfera da política com a desmoralização de todos os partidos e das práticas de gestão democrática, seria a derrota final da idéia do socialismo. A partir daí só poderá sobrevir a anomia e a barbárie. Quem precisa, hoje, apelar para práticas clandestinas, nos obscuros porões das agências de risco, é a direita neoliberal e os seus servos na tecnocracia dos partidos conservadores.

No atual período histórico, finalmente, a democracia política, que era a cortesã escondida do socialismo, passa ser sua única companheira. Democracia e socialismo estão fundidos no programa de direitos e nas oportunidades de luta abertas firmemente pelas constituições democráticas.

(*) Governador do Rio Grande do Sul