quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A grande crise do Sistema-Mundo


Pedro Teixeira


A transformação é o ato de tornar em algo totalmente diferente aquilo que outrora foi coisa um dia. Não vejo outra saída para essa grande crise que o capitalismo enfrenta se não a transformação.

O mundo se envolve em 2011 numa crise que caminha para se tornar aguda, a beira de um colapso. No Brasil felizmente não conseguimos observar a dimensão do buraco negro que suga, puxa e transforma o Planeta. Nossas reservas internacionais batem recorde, nosso sistema financeiro não enfrentou os mesmos problemas que os países do mundo desenvolvido e nossa política de um Estado indutor e intervencionista, garantiram o consumo interno e a expansão do crédito. A questão é saber por quanto tempo...

O mundo e o próprio capitalismo financeiro começam a se perguntar o que fazer? Passados três anos do crash de 2008, as economias fiadoras do projeto Neoliberal de enxugamento do Estado e massificação do consumo não conseguem achar o compasso entre crescimento e projeto de futuro.

O que se começa a discutir é qual será o rumo do Planeta nesse próximo período. O mundo financeiro capitalista global que viveu seu exponencial crescimento nos anos 90 e início dos anos dois mil percebe que já não é possível produzir sem rever alguns valores.

Paralelamente a isso, em todo o mundo a democratização das mídias, as redes sociais e as revoltas populares, somadas, começam a fazer pressão para afirmar que este modelo de desenvolvimento não pode continuar. Como já se anda dizendo, o casamento entre democracia e capitalismo vai de mal a pior. Suas contradições hoje são vista em todo o mundo: Países ditos fiéis baluartes da democracia, reprimem e violentam manifestações pacíficas e atitudes de críticas ao Estado Neoliberal e ao Sistema.

Através dessa pequena contextualização é possível perceber que o mundo hoje está em disputa em todas suas escalas e proporções. A idéia do Sistema-mundo, muito bem definida por Immanuel Wallerstein, nos faz perceber que a ligação intrínseca que o Capitalismo-industrial-financeiro proporcionou ao centro, a semi-periferia e a periferia do planeta, através de resultados cíclicos de normalidade e pasteurização que esse modelo impôs a cada um de seus biomas (periferia, semi-periferia e centro), começam a se tornar instáveis após a crise de 2008.

O que era centro começa a perder tal posto para os países semi-períféricos. Hoje tais nações estão se mostrando incapazes de tomar decisões políticas rápidas nas resoluções de crises. Já os BRICS emergentes, começam a despontar saídas e a dar receitas aos que outrora eram seus senhores.

Na periferia até então esquecida e não noticiada, o mundo começa a ver o calor das revoltas sociais e da busca pela garantia de direitos e de outro modelo de Estado.

Mas se tais constatações nos são colocadas, podemos de um modo grosseiro chegar à conclusão que o capitalismo possui os dias contados para o seu fim. Quem dera que tal informação fosse verdadeira.

Como dito, o mundo está em disputa. A própria teoria dos Sistemas-mundo, só nos ajuda a diagnosticar que o movimento cíclico de continuidade do sistema agora só está se adaptando a novos atores no cenário mundial, talvez até transformando o que era centro em semi-periferia ou promovendo a semi-periferia em países centrais.

De qualquer forma o mundo está em crise - Política, econômica, cultural e social. Se não houver qualquer intervenção da esquerda na disputa do projeto de poder do planeta, tal crise simplesmente irá caminhar para a recomposição dos atores globais e de um nem tão novo capitalismo mais “humanitário”, somente.

Tal constatação é notória se analisarmos que os mais prejudicados nessa crise não são os ricos. Quem estava rico antes de 2008, em 2011 continua rico e muitos até mais.

O grande prejudicado nessa história como sempre é o Estado e seu próprio Sistema, criado e articulado para desenvolver mecanismos de acumulação de capital nunca antes obtidos na história.

Diante de tal constatação é preciso refletir que a crise de 2008 não é uma crise financeira, no sentido de escassez da moeda. É uma crise política de entender qual será o papel do Estado no controle e organização da comunidade Terra a partir de agora.

Tal qual os novos modelos econômicos e políticos que revolucionaram o planeta ao longo da história, tais quais o feudalismo, o absolutismo, o mercantilismo, o capitalismo industrial e o próprio capitalismo financeiro atual, essa Era é a período da história do homem em que todas os povos, todas as nações e todas as pessoas são chamadas a presenciarem e participarem da Transformação.

Tal e qual todos os modelos políticos econômicos ao longo da história, o capitalismo financeiro moderno caminha para o buraco negro da transformação. Infelizmente ainda não sabemos no que tal monstro se transformará.

O que se detecta é que ele está puxando a todos. Capitalistas, Socialistas, Comunistas, Hare Krishna e o Diabo, para esse abismo de proporções inigualáveis devido à própria complexidade de relações que o mundo moderno vive.

Perceber isso é tão importante quanto a própria crise. Só com a percepção das movimentações que estão ocorrendo é que a esquerda tem condições de disputar quais serão os elementos que entrarão nesta “salada mix” que caminha a humanidade e que dará num novo modelo de ver e ter o mundo.

Só percebendo isso é que se consegue entender as movimentações do Governo do PT no enfrentamento da crise, nas relações com os movimentos sociais, com o Estado e com a comunidade internacional.

O Partido dos Trabalhadores e o Governo do PT já entendeu o tamanho da crise que nos metemos. Já entendeu também que o novo modelo de planeta já está sendo construído. Percebeu também que as alianças e os blocos políticos começam a ser desenhado no mesmo grau de proporção em todas as esferas – Mundial, regional e local.

Percebeu também que qualquer modelo que vir a se consolidar, só dará certo se tiver um Estado garantidor de direitos e interventor na economia, na propriedade, na comunicação e nas relações internacionais. Percebeu também que tais relações devem estar estritamente no mais alto limite democrático.

Resta saber a todos nós se percebemos que junto com tais paradigmas, entendemos que tal projeto deve ser de esquerda e ligado a disputa do bem comum, dos valores do SER, de uma sociedade mais justa, igualitária e de menor consumo.

Não é o padrão de vida mais alto que deve reger as relações sociais e econômicas neste próximo período, mas sim um melhor padrão de vida para todos, o que por si só na sua essência transforma tais valores nas suas próprias antinomias.

É a partir deste texto que convido toda a esquerda brasileira, toda a Juventude do PT, todos os inconformados com o Sistema da valorização do TER, da mercantilização não só das coisas mas das relações sociais, que se organize e dispute com unidade TODOS os espaços onde é possível disputar o projeto de um novo mundo.

A Universidade, seu bairro, o Estado, o próprio Sistema-mundo...

Se alguém já duvidou da capacidade de intervenção de nossa geração, a geração do programa neoliberal...

Se alguém quis acreditar que essa era uma geração perdida, sem conquistas, que não liga pra política, não se engane. É essa geração que vai construir um novo mundo pós-crise do capital. Pode ser melhor, pode ser pior. Pode ser de esquerda ou continuar na direita. Pode ser democrática de fato ou democrática de mito.

Só não tem como ser fora das relações estatais e fora do reconhecimento de cada SER que há no outro. O aprofundamento das relações sociais e o reconhecimento do Estado como indutor de tais relações nos mostra que tal objeto já não é um monstro por si só. O monstro que outrora era o Leviatã, agora pode se tornar disputável e verdadeiramente implantar políticas públicas oriundas do poder popular. Qual é a capacidade de intervenção que teremos para criar e recriar o Estado de uma tal forma que ele consiga cumprir tais anseios? Quem descobrir e conseguir implantar ganha o game.Façam suas apostas...